16. JAN. 12
Hoje vou conhecer o homem da minha vida.
3. ABR. 12
Na verdade, não conheci. Nem naquele dia, nem depois. E já tive mais certeza de que o acontecimento venha a ocorrer.
Mas estou surpreendida?
Não.
Estou irritada. Com ele e principalmente comigo. E estou muito frustrada.
Em tempos chamaste-me corajosa. Eu gostei mas hoje acho que fui simplesmente estúpida.
Sabes, eu não tenho paciência nem tendência para conversa feita de lugares-comuns. Prefiro mil vezes estar calada a dizer banalidades sem significado e propósito que não seja o de unicamente fazer barulho. Porque a maioria das pessoas tem medo do silêncio. Há uma cena do "Pulp Fiction" que ilustra isso muito bem.
"Mia: Don't you hate that?
Vincent: What?
Mia: Uncomfortable silences. Why do we feel it's necessary to yak about bullshit in order to be comfortable?
Vincent: I don't know. That's a good question.
Mia: That's when you know you've found somebody special. When you can just shut the fuck up for a minute and comfortably enjoy the silence."
Os silêncios desconfortáveis.
Como eu não gosto de falar do tempo e ficar calada não mostra o quão interessante eu sou - unicamente porque não me conheces -, decidi que falo daquilo que me vai verdadeiramente na alma. Sem filtros. Não digo tudo, mas digo muito. Assim ficas a conhecer-me melhor e a perceber o meu raciocínio. E podes apreciar a minha impulsividade em todo o seu esplendor!
Também já percebi que isso não atrai ninguém a não ser que já me conheçam, o que não é o caso. Deves pensar que sou doida - não nego mas acho que sou muito divertida nas minhas doidices - e que faço cenas na rua ou em frente aos amigos. Pelo contrário. Nessas situações sou muito diplomata. Ninguém tem nada a ver comigo e com quem quer que seja. Tu ou outro. Ou outra. Posso eventualmente discutir em privado mas não gosto de discussões - faço tudo para evitá-las, inclusive fazer-me de morta.
Mas talvez isso assuste e afaste. Se calhar, os homens gostam das mulheres que fazem barulho e os acusem de não pôr as cuecas usadas no cesto da roupa suja (desculpem a imagem...). Eu não o posso fazer, até porque não conheço ninguém mais desarrumada que eu. E sou demasiado honesta para não o admitir. É preciso disponibilidade mental e eu não a tenho, os meus níveis de concentração não o permitem - neste momento, já nem sequer me lembro do que escrevi no início deste texto, quanto mais lembrar-me de uma coisa que disse há quinze dias...
A minha frustração é imensa, admito. Estou a tentar trabalhar nisso mas a minha auto-estima não é grande. Já foi mais pequenina, é certo. Quando me olhava ao espelho e não gostava do que via. Quando tirava fotografias, levada pelo calor das situações, e depois via a mulher que não gostava de ver no espelho...
Há tempos decidi mudar. O meu aspecto físico, pelo menos. A cabeça é mais difícil. Emagreci bastante e não foi assim tão complicado, devo acrescentar. Agora gosto mais do que vejo (apesar de ter perdido mamas... :), mas também acho que estou melhor com menos) No entanto, nada mudou. Mesmo assim talvez não seja suficiente... não sei, Há pessoas que pura e simplesmente são sozinhas. Não estão sozinhas - são! É tão natural como respirar. Talvez eu seja uma delas.
A partir de certa altura na minha vida deixou de fazer sentido estar com alguém só por estar. Decidi que não queria mais isso. Fica um vazio muito grande depois de acabar. Quando digo "estar com alguém" estou a falar de sexo, isto que fique bem claro. Acho que o facto de nunca ter tido um orgasmo ajudou-me a decidir assim - sou mais feliz sozinha. E depois o risco de me apaixonar aumentava. E como nunca fui correspondida, nunca correu bem. Aumentava o risco de me apaixonar ou o risco de me desinteressar... dependendo do caso. De qualquer das formas, nunca correu bem.
Há três anos que não tenho ninguém mas na verdade nunca tive. Reformulo: há três anos que não faço sexo com ninguém. E não sinto falta. Será assim tão estranho?
The end.